Em algumas situações, há perda da hidratação da pele, que se torna ressecada. A situação mais frequente em que ocorre este problema é a chamada dermatite atópica. Nesta situação, a pele perde uma parte da sua barreira lipídica e não consegue manter sua hidratação natural, havendo perda de água e ressecamento. Conforme a pele se resseca, ela passa a coçar (pele seca coça muito). Com o ato de coçar, há inflamação no local, o que causa mais coceira. Além disto, há lesões, muitas vezes com sangramento e, frequentemente, infecção. Com a infecção da pele, há mais inflamação e, consequentemente, mais coceira, fechando um círculo vicioso interminável.
Imagine tudo isto em uma criança à noite, ou durante a aula. É simplesmente cruel. A criança acorda com o pijama sujo de sangue, de tanto se coçar e se machucar. Tem dificuldade de se concentrar na aula, de tanta coceira. Ou seja, a qualidade de vida cai muito.
Ainda não se conhece a causa exata da dermatite atópica, mas sabe-se que ela é mais frequente em crianças cujos pais são alérgicos, tiveram ou têm dermatite. Portanto, há uma causa genética envolvida nesta patologia. Além disto, a dermatite atópica pode ocorrer em crianças que tiveram asma ou rinite, ou mesmo pode preceder o aparecimento destas doenças, havendo a mudança do órgão alvo acometido pela alergia.
Sabe-se que há crianças que sofrem muito com o tempo frio, pela piora do ressecamento, enquanto outras pioram com o calor, devido à sudorese. Algumas crianças pioram quando têm contato com poeira e ácaros, sendo que há estudos mostrando a presença de ácaros nas lesões de dermatite atópica.
O uso de roupas sintéticas (como é feita a maioria dos uniformes escolares) piora as lesões, principalmente na região posterior das coxas, devido ao abafamento e aquecimento, pelo fato da criança ficar muito tempo sentada. Este local costuma ser bastante acometido pela dermatite atópica em crianças maiores, além das dobras dos cotovelos e joelhos e, algumas vezes, o pescoço. Já em bebês, as lesões costumam ser mais frequentes na face, algumas vezes se estendendo pelo tronco.
O tratamento da dermatite atópica se baseia em três medidas principais:
Hidratação da peleQuem tem dermatite atópica perde a água da pele. Então, a hidratação deverá ser intensa e constante. Sempre que a criança tomar banho, deve se hidratar a pele com cremes hidratantes. É importante saber que, nos primeiros cinco a dez minutos de banho, a pele absorve água. Se o banho se estende por muito tempo, há desidratação da pele (facilmente vista pela pele enrugada que fica nos dedos). Portanto, os banhos devem ser rápidos e não muito quentes. Logo após o banho, seca-se levemente a pele e aplica-se o hidratante, para que se mantenha a hidratação adquirida durante o banho.Utilizam-se sabonetes suaves, como por exemplo Dove, Cetaphil sabonete líquido, Eucerin sabonete líquido, principalmente nas áreas mais sujas (face, axilas, bumbum e pés), em pequena quantidade, para não ressecar demais a pele. Já os hidratantes, são melhores aqueles mais consistentes, como o Cold Cream( Avène ou La Roche Posay) ou o Cetaphil para peles extremamente secas. Cremes hidratantes em loção costumam ser muito fracos para hidratar a pele com dermatite atópica.
Eliminação dos desencadeantesComo os ácaros podem estar envolvidos na manifestação alérgica, é importante manter o dormitório o mais livre possível dos mesmos. Para dicas de como fazer isto, clique aqui.
A sudorese pode ser um fator importante de irritação da pele em algumas crianças. E como criança costuma brincar até pingar de suor, é fundamental que se dê um banho rápido e se hidrate a pele em seguida. Além disto, o uso de roupas de algodão pode ajudar bastante a absorver a sudorese, não abafando mais os locais acometidos.
Medicamentos
Como a base da dermatite atópica é a inflamação da pele, o uso de anti-inflamatórios locais é de grande valia. Os corticoides tópicos são as drogas de escolha. Porém, existem corticoides com potências muito variáveis, sendo que a diferença de potência entre o mais fraco e o mais forte pode chegar a 400 vezes. Desta forma, o médico vai escolher qual corticoide será mais apropriado para determinada lesão da pele e seu local.
Há poucos anos, uma nova classe de anti-inflamatórios tópicos não esteroides foi lançada no mercado. São os imunomoduladores tópicos e, no Brasil há duas drogas disponíveis no mercado (tacrolimus e pimecrolimus). Estes medicamentos têm efeito na inflamação, mas não com a potência dos corticoides, de forma que lesões muito intensas ou infectadas não devem ser tratadas com eles. Além disto, são medicamentos relativamente novos e não devem ser utilizados sem a prescrição de um médico.
Como as crianças que têm dermatite atópica frequentemente acabam desenvolvendo infecções na pele, devido à coceira intensa, o uso de antibióticos tópicos ou orais muitas vezes é necessário para controlar os sintomas. Porém , o uso de corticoides por via oral não é recomendado, pois, apesar de provocar uma melhora excepcional, leva ao chamado efeito rebote, ou seja, depois da melhora, as lesões voltam muito piores.